Ser parte da comunidade LGBT hoje em dia já não é fácil, mas antigamente era ainda pior. Devido ao medo de serem linchados ou presos muitos homossexuais ao redor do mundo desenvolveram seus próprios códigos secretos para poderem se encontrar em público com pessoas de interesses similares, e alguns desses códigos sobrevivem até hoje. Conheça os principais deles agora mesmo.
Chemical Engineer, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons |
Vamos começar com o incrível fato de que gays tinham sua própria língua! Ou quase isso. Conheça o Polari, um idioma inglês que combina elementos do romani, latim, gíria rimada e até mesmo palavras de trás pra frente. Os homossexuais usavam essa linguagem para falar em público sem ter problemas com homofóbicos e com a lei.
A língua, porém, não era exclusiva da comunidade LGBT, ela era usada por todos aqueles que eram "marginalizados" pela sociedade, o que incluía atores, circenses, lutadores profissionais, marinheiros da marinha mercante, criminosos e prostitutas.
A língua, porém, não era exclusiva da comunidade LGBT, ela era usada por todos aqueles que eram "marginalizados" pela sociedade, o que incluía atores, circenses, lutadores profissionais, marinheiros da marinha mercante, criminosos e prostitutas.
Agora vamos falar do código mais famoso da comunidade LGBT+, o código do lenço. Ele é muito simples, basta usar um lenço de uma determinada cor para indicar a sua sexualidade ou fetiche sexual. E usar um lenço no lado esquerdo do corpo normalmente indicava que aquela pessoa era ativa, enquanto do lado direito ela era passiva.
Koala:Bear, CC BY-SA 2.0, via Wikimedia Commons |
Como nós já dissemos em nossa série de matérias sobre os significados secretos das tatuagens, a tatuagem de um triângulo rosa tem um verdadeiro significado secreto, ela é uma tattoo LGBT, ou seja, uma tatuagem gay, sua história, porém, é bem triste.
Na Alemanha nazista prisioneiros gays em campos de concentração eram forçados a usar triângulos rosas como um sinal de vergonha. Na verdade esses prisioneiros eram os "mais baixos dos mais baixos" na hierarquia dos campos de concentração, nem os outros presos gostavam deles. Os nazistas torturaram os prisioneiros gays castrando alguns deles e sodomizando-os com itens como vassouras. Eles também realizaram experimentos perigosos com eles para encontrar curas para a febre do tifo e também para a homossexualidade. E mesmo após os judeus serem libertados, os prisioneiros gays continuaram em campos de concentração, isso porque ser gay era ilegal na época.
Hoje em dia o triângulo rosa é usado como símbolo de orgulho pela comunidade LGBT. Inclusive o Memorial do Holocausto para Gays e Lésbicas em Sydney foi construído no formato de um triângulo rosa, como você pode ver acima.
Na Alemanha nazista prisioneiros gays em campos de concentração eram forçados a usar triângulos rosas como um sinal de vergonha. Na verdade esses prisioneiros eram os "mais baixos dos mais baixos" na hierarquia dos campos de concentração, nem os outros presos gostavam deles. Os nazistas torturaram os prisioneiros gays castrando alguns deles e sodomizando-os com itens como vassouras. Eles também realizaram experimentos perigosos com eles para encontrar curas para a febre do tifo e também para a homossexualidade. E mesmo após os judeus serem libertados, os prisioneiros gays continuaram em campos de concentração, isso porque ser gay era ilegal na época.
Hoje em dia o triângulo rosa é usado como símbolo de orgulho pela comunidade LGBT. Inclusive o Memorial do Holocausto para Gays e Lésbicas em Sydney foi construído no formato de um triângulo rosa, como você pode ver acima.
Similarmente ao código do lenço, a comunidade LGBT também usava brincos para se identificarem de maneira fácil e segura, só que esse código aparentemente variava de lugar para lugar, o que deixa a coisa toda muito confusa. Em alguns lugares a "orelha gay" era a direita, em outros a esquerda, e ainda existem fontes que dizem que um homem com as duas orelhas furadas era na verdade bissexual.
O significado secreto dos brincos acabou se perdendo (se é que ele sequer existiu) quando homens de brinco ficaram mais populares graças a astros do rock e o movimento punk.
O significado secreto dos brincos acabou se perdendo (se é que ele sequer existiu) quando homens de brinco ficaram mais populares graças a astros do rock e o movimento punk.
Como dizer ao mundo que você era gay, na frente de todo mundo, sem dizer uma palavra sequer? Com arte é claro. Antigamente era muito comum que artistas gays fizessem obras gays, disfarçadas de arte, um dos temas mais usados era a mitologia romana. A coisa era na verdade tão comum que em 2017 o Museu Tate Britain fez uma exposição inteira de arte gay chamada "Queer British Art (1861-1967)".
Outro código secreto gay eram as penas de pavão, comumente usadas nas lapelas dos ternos. A coisa era tão comum que as penas também apareciam em pinturas gays, como por exemplo na obra "Charles Ricketts and Charles Shannon as Medieval Saints (1920)", que mostra um dos homens claramente segurando uma pena de pavão.
Acabou que o pavão virou um símbolo gay por inteiro, tanto que em 2015 um telespectador atacou virtualmente o canal de televisão NBC por ele ter confundido o pavão do logotipo deles com um "avatar da cultura gay", fazendo com que o canal tivesse de esclarecer a confusão.
Cravos costumam ter uma cor mais avermelhada, amarelada e azulada, mas os homossexuais precisavam de algo mais único para se identificarem em público, já que a flor era bem comum. Assim nasceram os cravos verdes, que eram tingidos artificialmente e também usadas nas lapelas das pessoas.
O escritor Oscar Wilde foi quem popularizou o uso de um cravo verde como símbolo gay em 1892. Ele instruiu seus amigos a usá-los na lapela para a abertura de sua comédia, "Lady Windermere’s Fan". Tornando a flor um símbolo de sua sexualidade.
Já lésbicas usavam violetas, isso porque essa flor era muito usada nas obras da poetiza Safo, que vivia em Lesbos e praticamente foi a responsável pela criação do termo "Lésbica".
O código era tão popular que um escândalo ocorreu em 1926 devido a ele, quando uma personagem feminina da peça "The Captive" enviou violetas para outra personagem feminina. A estudiosa literária Sherrie Inness relatou no National Women’s Studies Association Journal que o tema do lesbianismo nesta peça gerou um alvoroço levando o escritório do promotor distrital da cidade de Nova York a encerrar a produção em 1927.
O código era tão popular que um escândalo ocorreu em 1926 devido a ele, quando uma personagem feminina da peça "The Captive" enviou violetas para outra personagem feminina. A estudiosa literária Sherrie Inness relatou no National Women’s Studies Association Journal que o tema do lesbianismo nesta peça gerou um alvoroço levando o escritório do promotor distrital da cidade de Nova York a encerrar a produção em 1927.
Ainda falando de lésbicas, o labrys é um símbolo comum do feminismo e do orgulho lésbico. Ele é um tipo de machado de dois gumes comumente usado em sociedades matriarcais históricas, por isso virou símbolo do poder feminino. Ele é muito usado em bandeiras e tatuagens hoje em dia, já que... bom... deve ser difícil você sair por aí carregando um machado de verdade.
Eli Christman from Richmond, VA, USA, CC BY 2.0, via Wikimedia Commons |
Em 2005 uma "nova" sexualidade estava começando a se popularizar, era a assexualidade, ou seja, a atração por nenhum gênero. Para se identificarem essas pessoas começaram a usar o chamado anel Ace, que é um anel negro usado no dedo do meio da mão direita.
Raladic, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons |
Já o Aro é um anel branco usado por arromânticos, pessoas que não sentem atração romântica por outras pessoas, no dedo médio da mão esquerda.
Raladic, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons |
Outro símbolo secreto frequentemente usado por pessoas arromânticas são flechas, já que a palavra flecha em inglês ("arrow") é um homófono da palavra abreviada "aro", usada por pessoas arromânticas para se referir a si mesmas.
Na Sociedade para o Anacronismo Criativo, os membros LGBT costumam usar uma pena azul escura para indicar sua afiliação com o Clã Blue Feather, um grupo de membros da SAC que promove o estudo da cultura LGBT e das pessoas na Idade Média. Por causa dessa afiliação, penas azuis também foram usadas em algumas feiras renascentistas e eventos pagãos para identificar homossexuais.
Em alguns círculos gays da cidade de Nova York do início do século XX os gays usavam gravatas vermelhas como um sinal sutil de suas preferências sexuais, a gravata podia ser do estilo normal ou borboleta.
O vermelho foi provavelmente escolhido por ser uma cor muito pouco utilizada em gravatas, já que o mais comum era elas serem pretas, marrons ou azuis.
O vermelho foi provavelmente escolhido por ser uma cor muito pouco utilizada em gravatas, já que o mais comum era elas serem pretas, marrons ou azuis.
Em 1970 o designer gráfico Tom Doerr selecionou a letra grega minúscula lambda para ser o símbolo do capítulo de Nova York da Gay Activists Alliance. Doerr escolheu o símbolo especificamente por seu significado denotativo no contexto da química e da física: "uma troca completa de energia - aquele momento ou intervalo de tempo testemunha uma atividade absoluta".
O lambda tornou-se associado ao Gay Liberation, e em dezembro de 1974, foi oficialmente declarado o símbolo internacional dos direitos de gays e lésbicas pelo Congresso Internacional dos Direitos dos Gays em Edimburgo, Escócia. A organização de direitos gays Lambda Legal e a American Lambda Literary Foundation derivam seus nomes deste símbolo.
Di (they-them), CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons |
Daniel Thaxton e Bernie Toale criaram o símbolo de um rinoceronte lilás para uma campanha publicitária pública para aumentar a visibilidade dos gays em Boston, liderada pela Gay Media Action-Advertising. Na época Toale disse que eles escolheram um rinoceronte porque ele "é um animal muito difamado e incompreendido" e que ele era lilás porque essa cor é uma mistura de rosa e azul, tornando-o uma fusão simbólica do feminino e do masculino.
No entanto, em maio de 1974, a Metro Transit Advertising disse que seus advogados não poderiam "determinar a elegibilidade da taxa de serviço público" para os anúncios do rinoceronte lavanda, o que triplicou o custo da campanha publicitária. A Gay Media Action contestou isso, mas não teve sucesso. Mesmo assim o símbolo ainda é usado até hoje.
Foto de James Lee na Unsplash |
Os unicórnios tornaram-se um símbolo da cultura LGBT devido às associações entre o animal e o arco-íris, associações essas que foram estendidas à bandeira do arco-íris criada em 1978 por Gilbert Baker.
Rusty Clark ~ 100K Photos, CC BY 2.0 DEED |
Similarmente um tubarão também virou símbolo LGBT, trata-se do tubarão de pelúcia da IKEA chamado Blåhaj. Esse tubarão em particular representa a comunidade transgênero, em parte devido à cor semelhante dele a uma bandeira do orgulho transgênero.
Isso tudo começou sem motivo aparente em 2020, em 2021 a IKEA realizou uma campanha publicitária para apoiar o casamento entre pessoas do mesmo sexo na Suíça apresentando o tubarão como símbolo não-oficial da comunidade LGBT.
Isso tudo começou sem motivo aparente em 2020, em 2021 a IKEA realizou uma campanha publicitária para apoiar o casamento entre pessoas do mesmo sexo na Suíça apresentando o tubarão como símbolo não-oficial da comunidade LGBT.
Wolfgang Sauber, CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons |
Dois símbolos do sexo femininos interligados (⚢) representam uma mulher lésbica ou a comunidade lésbica, e dois símbolos do sexo masculinos interligados (⚣) representam um homem gay ou a comunidade gay masculina. Esses símbolos apareceram pela primeira vez na década de 1970 e eram colocados em lugares que eram amigáveis aos gays, como por exemplo clubes.
Kwamikagami, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons |
Domínio público |
O símbolo chamado de "biangles" foi desenhado pela artista Liz Nania enquanto ela co-organizava um contingente bissexual para a Segunda Marcha Nacional em Washington pelos Direitos de Lésbicas e Gays em 1987. O desenho dos biângulos começou com o triângulo rosa, que nós já cobrimos nessa matéria, com a adição de um triângulo azul que representa a heterossexualidade. Os dois triângulos se sobrepõem e formam a cor lavanda.
Kwamikagami, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons |
Mas é bom saber que alguns indivíduos bissexuais se opõem ao uso de um triângulo rosa no símbolo "biangles" da bissexualidade, isso porque ele era um símbolo que o regime de Adolf Hitler usava para marcar e perseguir homossexuais. Em resposta a essa controvérsia, um símbolo de duas luas crescentes foi criado por Vivian Wagner em 1998. Este símbolo é comum na Alemanha e nos países vizinhos que foram mais afetados pelo nazismo.
Peloponnesian Folklore Foundation, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons |
Um nó branco era usado discretamente como um símbolo de apoio ao casamento entre pessoas do mesmo sexo nos Estados Unidos. O nó branco combina dois símbolos de casamento, a cor branca e "dar o nó".
O nó branco foi criado por Frank Voci em novembro de 2008, em resposta à aprovação da Proposta 8 na Califórnia e à proibição do casamento entre pessoas do mesmo sexo e à negação de outros direitos civis para pessoas LGBT em todo o país.
Foto de Stavrialena Gontzou na Unsplash |
E não poderíamos deixar de mencionar o vocabulário LGBT, muitas dessas palavras são conhecidas hoje, mas antigamente só quem era membro da comunidade sabia delas. Então aqui vai um glossário LGBT pra você aprender.
Drag = palavra usada no Polari para identificar uma pessoa de um sexo que age como se fosse de outro.
Queer = pessoa que não segue as "regras da sociedade".
Dolly = pessoa legal, amigável.
Bibi = pessoa bisexual.
Dolly = pessoa legal, amigável.
Bibi = pessoa bisexual.
Alamo = pessoa atraente.
Bitaine = vadia.
Butch = lésbica que se identifica mais com o gênero masculino.
Bear = homens gays peludos e/ou barbudos com sobrepeso.
Twink = homens com aparência jovem.
Chicken = homens que realmente são jovens.
Cottage = banheiros públicos onde se pode ter relações sexuais.
Fantabulosa = algo fantástico.
Amapo = mulher.
Bofe = homem bonito.
Carimbo = doenças sexualmente transmissíveis.
Carão = fazer pose ou debochar de alguém.
Quebrar a louça = quando um homossexual dorme com um hétero.
Ocó = homem.
GDC = "gay de cabeça", pessoa gay mas que age como hétero, ou o contrário.
LGBTQ+ = sigla para "Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros, Queers e Mais."
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