19 de outubro de 2018

Os maiores guerreiros do mundo #6

As guerras sempre vão ser parte da história humana, e com ela nós temos os guerreiros, sua grande maioria foi apenas bucha de canhão, mas alguns poucos conseguiram se sobressair e viraram lendas, alguns porém já foram esquecidos pelas pessoas.
Confira nessa matéria a história de mais alguns dos maiores guerreiros que já viveram. E se você quiser conhecer os maiores guerreiros animais que já viveram (sim, estamos falando de cães, macacos, pombos e até elefantes) clique aqui agora mesmo.

Domínio público
Vamos começar com uma pessoa que não foi apenas um ótimo guerreiro como também um símbolo histórico da comunidade LGBT.
Assim como muitos nomes dessas listas você provavelmente nunca ouviu falar do francês Chevalier d'Éon, nem mesmo a comunidade LGBT costuma se lembrar dele, mesmo assim sua história única merece ser recontada.
Nascido em 5 de outubro de 1728 Charles-Geneviève-Louis-Auguste-André-Timothée d'Éon de Beaumont (sim, esse era o seu nome de verdade) foi um dos maiores soldados e espiões da França de sua época... e ele também era trans.
Chevalier nasceu em uma família nobre, mas pobre, mesmo assim seus pais tinham bons empregos para a época e conexões com a realeza e o exército, o garoto era um ótimo estudante e se formou ganhando um diploma em Lei Civil e Direito Canónico, passou então a trabalhar para o departamento fiscal, mas sua vida calma não iria durar muito.
Em 1756, d'Éon juntou-se à rede super-secreta de espiões chamada Segredo do Rei, empregados pelo rei Luís XV sem o conhecimento do governo. Ele então foi mandado em uma missão secreta à Rússia para encontrar a imperatriz Elizabeth e conspirar com a facção pró-francesa contra a monarquia de Habsburgo.
Naquela época, ingleses e franceses estavam em desacordo, e os ingleses estavam tentando negar o acesso da França à imperatriz, permitindo apenas que mulheres e crianças atravessassem a fronteira para a Rússia. D'Éon já havia percebido que ele tinha traços andrógenos, como se isso não bastasse ele também era um ótimo mímico, ele não teve dúvidas e se travestiu de mulher para não ser executado pelos ingleses, ele virou uma mulher de classe chamada Lea de Beaumont, seu disfarce era tão bom que ele passou a servir como dama de honra à Imperatriz.
D'Éon foi excepcional em sua missão, seu maneirismo perfeito fez com que seu disfarce durasse o suficiente até que ele retornou à França em outubro de 1760 e recebeu uma pensão de 2.000 livres como recompensa pelo seu serviço na Rússia. Mas ele ainda não estava satisfeito, em maio de 1761, d'Éon tornou-se capitão de dragões (um tipo de cavalaria) sob o marechal de Broglie e lutou nos últimos estágios da Guerra dos Sete Anos. D'Éon serviu na Batalha de Villinghausen em julho de 1761 mas foi ferido em Ultrop. Depois que a Imperatriz Isabel morreu em janeiro de 1762, d'Éon foi considerado para servir na Rússia, mas em vez disso foi nomeado secretário do duque de Nivernais, premiado com 1.000 libras, e enviado a Londres para redigir o tratado de paz que encerrou formalmente a Guerra dos Sete Anos. O tratado foi assinado em Paris em 10 de fevereiro de 1763 e d'Éon recebeu mais 6.000 libras e recebeu a Ordem de Saint-Louis em 30 de março de 1763, tornando-se o Chevalier (Cavaleiro) d'Éon.
Ainda vivendo como homem ele continuou sua vida de espionagem enquanto trabalhava como embaixador, ele fazia amizade com a nobreza inglesa ao lhe dar vinhos de sua própria criação, e conseguia informações que paravam invasões antes mesmo delas começarem. Mas sua vida boa não durou muito.
Com a chegada do novo embaixador, o conde de Guerchy em outubro de 1763, d'Éon foi rebaixado ao posto de secretário e se sentiu humilhado na frente de seus amigos da nobreza, ele então decidiu sair da França mesmo desobedecendo ordens.
D'Éon era um espião que sabia demais, assim que ele saiu da França o governo parou de lhe pagar sua pensão, eles tentaram extraditar ele, com medo que ele revelasse o que ele sabia sobre os crimes do governo francês. D'Éon até processou Guerchy por tentativa de homicídio por envenenamento. Com os segredos da monarquia em mãos, d'Éon manteve o rei sob controle.
D'Éon não ofereceu nenhuma defesa quando Guerchy processou ele por difamação, então foi declarado um fora da lei e se escondeu. No entanto sua personalidade amigável assegurou a simpatia do público britânico: a multidão zombou de Guerchy em público e atirou pedras em sua residência. D'Éon então escreveu um livro sobre administração pública, "Les Loisirs du Chevalier d'Éon", publicado em treze volumes em Amsterdã em 1774.
Guerchy foi chamado de volta à França e, em julho de 1766, Luís XV concedeu a d'Eon uma pensão (possivelmente um pagamento para assegurar o seu silêncio) e uma anuidade de 12.000 euros, mas recusou a exigência de mais de 100.000 libras para pagar a pensão de d'Éon que tinha dívidas extensas.
D'Éon continuou a trabalhar como espião, mas viveu no exílio político em Londres. A posse das cartas secretas do rei fornecia proteção contra novas ações, mas d'Éon não pôde retornar à França.
Apesar do fato de que d'Éon usava habitualmente um uniforme militar de dragão, circulavam rumores em Londres de que ele era na verdade uma mulher se passando por homem. Uma aposta foi iniciada na Bolsa de Valores de Londres sobre o verdadeiro sexo do cavaleiro. D'Éon até foi convidado a participar, mas recusou, dizendo que um exame seria desonroso, qualquer que fosse o resultado. Depois de um ano sem progresso, a aposta foi abandonada. Após a morte de Luís XV em 1774, seu exílio acabou mas ele teve de devolver todos os documentos que incriminavam a realeza.
Ao voltar para seu país d'Éon passou a viver como mulher e mandou que o governo o reconhecesse como tal. Ele até mesmo disse que ele tinha nascido mulher, o Rei aceitou seu pedido e d'Éon foi um dos primeiros transgêneros da história moderna.
A pensão concedida por Luís XV foi encerrada pela Revolução Francesa e d'Éon teve de vender seus bens pessoais para pagar as contas, incluindo livros, joias e chapas. As propriedades da família em Tonnerre foram confiscadas pelo governo revolucionário. Em 1792, d'Éon enviou uma carta à Assembléia Nacional francesa oferecendo-se para liderar uma divisão de soldados do sexo feminino contra os Habsburgos, mas a oferta foi rejeitada, afinal o pensamento da época era que mulheres não podiam lutar tão bem como homens. 
Além de soldado e espião Chevalier era um ótimo esgrimista, ele derrotou diversos oponentes em duelos, muitas vezes (para o desespero de seus inimigos) vestido como uma mulher. A humilhação de perder era ruim, mas perder para uma mulher era demais.
D'Éon participou de torneios de esgrima até ser gravemente ferido em Southampton em 1796. Os últimos anos de d'Éon foram gastos com uma viúva, a Sra. Cole. Em 1804, ele (agora oficialmente ela) foi enviado para uma prisão de devedores por cinco meses e assinou um contrato para uma biografia, a ser escrita por Thomas William Plummer, mas que nunca foi publicada. D'Éon ficou paralisado após uma queda e passou os últimos quatro anos de cama, morrendo na pobreza em Londres em 21 de maio de 1810, aos 81 anos de idade.
Após a sua morte veio o fim do mistério de sua sexualidade, o cirurgião que examinou o corpo de d'Éon atestou em seu certificado post-mortem que o Chevalier tinha "órgãos masculinos em todos os aspectos perfeitamente formados", enquanto ao mesmo tempo exibia características femininas. Algumas características descritas no certificado foram "redondeza incomum na formação dos membros", bem como "mama notavelmente cheia".
Seu legado durou pouco tempo, sua história acabou sendo esquecida, mas Chevalier d'Éon foi realmente uma personalidade histórica única, livros foram escritos sobre ele, filmes e peças de teatro também, ele até apareceu no jogo Assassins Creed Unity.

United States Army Air Forces, Domínio público, via Wikimedia Commons
Você já ouviu falar do Esquadrão Suicida? Provavelmente sim, mas eles devem ser a versão dos quadrinhos não é? Mas um grupo assim realmente existiu, conheça agora o Esquadrão 666, os soldados que realizavam missões suicidas que ninguém mais tinha coragem.
A história começa com o piloto Jay Zeamer Jr. um cara normal e um bom soldado, seu único defeito era que aparentemente ele não se dava bem com seus superiores, seguir regras não era para ele, devido a isso ele não conseguiu promoções, mesmo elas sendo automáticas naquela época.
Zeamer acabou adquirindo o "velho 666", um avião de guerra B17-E que era uma fortaleza aérea, mas também era um grande alvo, por isso o avião tinha fama de amaldiçoado. Seu amigo foi quem indicou o avião depois de vê-lo em ação, Zeamer, provavelmente cansado da solidão, resolveu formar seu próprio esquadrão com os soldados mais desajustados que ele conhecia, eles foram chamados de "Eager Beavers" ou "Castores Ansiosos" porque eles sempre se voluntariavam para as missões primeiro. Juntos eles modificaram o avião para servir melhor as suas necessidades ao colocar um monte de armas nele. Zeamer não confiava em caças de escolta e de qualquer jeito eles acabavam sempre sozinhos, então o jeito era se proteger. O 666 não tinha as usuais metralhadoras .30 de um B17 comum. A tripulação modificou o avião para um total de 19 pontos de tiro, inclusive para os operadores de rádio. Também usavam encaixes de ação rápida e deixavam metralhadoras extras espalhadas pelo chão. Zeamer fez questão de instalar uma .50 na cabine, apontando para frente e acionada por um gatilho em seu manche.
Eles tinham mais de um avião mas o 666 era realmente único, eles costumavam jogar bombas bem abaixo deles em voos rasantes, devido ao peso do avião de 24 toneladas essa era uma tática suicida mas funcional.
Em 5 de maio de 1943 o Velho 666 estava participando de uma missão noturna em Wewak, quando a antiaérea japonesa conseguiu apontar os holofotes para a formação, e o fogo cerrado começou. Zeamer mergulhou em direção ao solo, com sua tripulação atirando com todas as armas que podiam mirar para frente. Dois holofotes foram danificados, três destruídos e os japoneses perderam a iniciativa do combate.
A Grande Missão do Velho 666 chegou no dia 16 de junho de 1943, quando precisaram desesperadamente de informações sobre as posições japonesas na ilha de Bougainville, isso era 1000 Km sobre mar aberto para ir e 1000 Km sobre mar aberto para voltar, alvo fortemente armado, cheio de patrulhas inimigas e, claro, sem nenhum caça de escolta para dar cobertura. Exatamente o tipo de missão que o Esquadrão Suicida esperava.
Nenhum sinal do inimigo, só mais 20 minutos e voltariam para casa, exceto que nada dava certo pro Velho 666, e nada menos que 17 caças japoneses apareceram e caíram como um enxame. A tripulação inteira começou a retornar fogo, inclusive o Segundo-Tenente Joseph Sarnoski que foi atingido por um projétil explosivo de 20mm que o feriu mortalmente. Sarnoski se arrastou de volta para sua posição, continuou atirando, derrubou outro avião, mas não resistiu aos ferimentos e morreu em seu posto, em uma má sorte incrível essa era sua última missão antes de dar baixa e voltar para a América.
Zeamer manobrava o B17 surpreendendo os japoneses com suas armas de proa, quando finalmente o seu painel de instrumentos se desintegrou. Quatro projéteis explosivos dos canhões de 20mm penetraram no cockpit, sua perna se quebrou acima e abaixo do joelho, um fragmento abriu um enorme buraco em sua coxa, seu pulso direito foi cortado e ele ficou com estilhaços pelo corpo todo.
Sua tripulação agora contava com quatro feridos e um morto, Zeamer lutando para manter a consciência enquanto manobrava o avião na direção do fogo inimigo tinha agora outro problema, um tiro de sorte acertou o tanque de oxigênio do Velho 666, causando uma explosão. O 666 estava a 7600 metros de altitude, Zeamer sabia que eles perderiam a consciência em alguns segundos com a falta de ar e mergulhou para o chão, o avião pegou fogo que eles então apagaram com panos e suas próprias mãos.
A batalha durou no total 40 minutos, quando os japoneses foram pouco a pouco derrubados, danificados ou se retiraram por falta de munição ou combustível. Eles agora tinham de voltar para casa sem instrumentos antes que os japoneses voltassem. Todos estavam feridos, eles receberam no total mais de 180 balas e 5 tiros de canhão mas chegaram em casa. Zeamer estava sangrando tanto que mesmo sem ver seu batimento ele já tinha sido declarado morto pelos socorristas, mas o suicida ainda estava vivo.
Sarnoski e Zeamer receberam a Medalha de Honra, com o restante da tripulação recebendo a Cruz de Serviços Distintos. Era a terceira vez na história que dois membros da mesma equipe receberam a Medalha pela mesma missão. Quando combinado com as decorações recebidas antes da missão de 16 de junho de 1943, Zeamer e os Eager Beavers continuam sendo a tripulação mais bem condecorada da história americana.
O Tenente-Coronel Jay Zeamer viveu até os 88 anos, morrendo em 22 de março de 2007, os suicidas desajustados se tornaram lendas no exército, e não era pra menos, seus feitos incríveis parecem coisas de filme e vão ser lembrados por muito tempo.

Malindine E G (Lt), Tanner (Lt), War Office official photographer, Domínio público, via Wikimedia Commons
Se falamos de um grupo de homens que fez por merecer o título de lendas, nada mais justo do que falar agora de um grupo de mulheres que embora não fossem guerreiras de verdade mudaram o rumo da história do mundo.
Caroline Haslett era fanática por eletricidade, algo muito incomum para quem nasceu em 1895 e basicamente inédito para uma mulher daquela época. Fascinada por ciência ela provavelmente nunca imaginou que se meteria em uma guerra, mas foi isso o que aconteceu.
Em 1919 ela se tornou a primeira Secretária da Sociedade de Mulheres Engenheiras, de Londres. Em 1925 a organização sediou a primeira Conferência Internacional de Mulheres na Ciência. Ela também foi a única mulher a participar da Conferência Mundial de Energia em Berlin, foi ainda pioneira em um monte de eventos e cargos, mas o seu maior feito veio durante a Segunda Guerra Mundial.
Naquela época era impensável que mulheres fossem a guerra. Só que depois de muito sufoco a Inglaterra descobriu que estava ficando sem homens para mandar as batalhas, então criaram o Auxiliary Territorial Service, uma força inicialmente voluntária de mulheres que ajudavam na guerra sem fazer parte da linha de frente.
Caroline não gostou de ver suas irmãs excluídas da batalha desse jeito e decidiu mudar isso ela mesma. Primeiro ela arrumou um aliado, o General Sir Frederick Alfred Pile, comandante das forças antiaéreas britânicas, que tinha a infeliz missão de defender o território usando forças voluntárias e soldados velhos ou acabados demais para as linhas de frente.
Os dois sabiam que não poderiam simplesmente colocar mulheres nas baterias de canhões. Se fizessem algo assim a opinião pública seria contra, os políticos seriam contra e os soldados se recusariam a trabalhar lado a lado com as mulheres. Em um sensacional ato de consenso, os dois chegaram a um meio-termo: se as mulheres não operassem diretamente as armas todo o resto seria liberado para elas.
Surgiu então o grupo de soldados Ack Ack Girls. O nome é por causa do barulho dos canhões. Eram jovens entre 20 e 30 anos (embora várias de 16 tenham se voluntariado e ninguém se preocupava em pedir a certidão de nascimento) que cuidavam de toda a parte complexa de monitoramento, detecção e cálculo de tiro. Basicamente as mulheres faziam todo o trabalho e um homem simplesmente puxava o gatilho.
O grupo de Caroline foi treinado na operação de equipamentos complexos, tecnologia top de linha da época, aprendiam a identificar aviões, calcular distâncias com teodolitos, marcar alvos e alimentar com dados computadores que calculavam e projetavam as trajetórias, que então eram repassadas para as armas.
O grupo fez um excelente trabalho e sua fama chegou aos ouvidos de Hitler que ordenou que aviões bombardeassem as mulheres, já que sem elas os homens seriam inúteis. Vários bombardeios depois as mulheres ainda estavam firmes e fortes.
A própria filha de Winston Churchill servia nas baterias antiaéreas, a população aplaudia o esforço de guerra e a participação feminina, e os soldados não se sentiam ameaçados. Mesmo os que eram francamente contra a presença delas em posições de combate. Um desses era o Tenente-Coronel J.W. Naylor, que não queria de jeito nenhum servir em uma unidade mista mas foi obrigado e tempos depois acabou deixando registrado para a história uma desculpa as mulheres.
Ao final da guerra 707 mulheres foram mortas servindo seu país nas baterias antiaéreas, muitas delas de forma covarde, nazistas costumavam atacar furtivamente durante nevoeiros, metralhando os postos costeiros. As mulheres nessas ocasiões provavelmente pegavam as armas e iam atrás dos nazistas mas se existiu qualquer registro disso ele foi destruído para não humilhar o exército.
Caroline Haslett, a estrategista feminista que moveu as peças habilmente para mostrar ao mundo do que mulheres são capazes morreu em 1957, aos 61 anos, tendo seu merecido reconhecimento, sendo inclusive recebida com honras pelo Presidente dos EUA.
Como você deve ter percebido sua vida inspirou muitas mulheres, e devido aos seus esforços hoje o sexo feminino pode servir ao lado de homens na linha de frente, inclusive em 2016 todas as tripulações dos silos de mísseis nucleares balísticos intercontinentais dos EUA eram compostas 100% por mulheres. Caroline será lembrada enquanto as mulheres continuarem lutando.

Fontes: Link1

Se você gostou dessa matéria visite o nosso facebook e curta nossa página.

Nenhum comentário:

Postar um comentário