9 de outubro de 2019

Conheça a história dos criminosos mais famosos do mundo #4 - John Dillinger

Chegou a hora da quarta parte de nossa nova série de matérias sobre a história real dos maiores criminosos do mundo, aqueles que viraram lendas históricas graças a seus crimes.
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FBI, Domínio público, via Wikimedia Commons
Hoje nós vamos falar de ninguém menos do que John Dillinger, mas agora você provavelmente deve estar se perguntando quem foi esse cara não é mesmo? Dillinger pode não ser tão famoso no Brasil quanto os outros nomes dessa série de matérias, mas ele é uma lenda nos E.U.A, onde ele era considerado ao mesmo tempo um dos piores criminosos da época, e um Robin Hood moderno.
John Dillinger nasceu em 22 de junho de 1903, em Indianápolis, Indiana, sendo o mais novo de dois filhos de John Wilson Dillinger e Mary Ellen "Mollie" Lancaster. O pai de Dillinger era um simples comerciante, de acordo com várias fontes, um homem rude, mal educado e que adorava disciplinar suas crianças. A irmã mais velha de Dillinger, Audrey, nasceu em 6 de março de 1889. Sua mãe morreu em 1907 pouco antes do seu quarto aniversário. 
Sua irmã então se casou com Emmett "Fred" Hancock naquele ano e eles tiveram sete filhos juntos. Ela cuidou de seu irmão John por vários anos até que seu pai se casou novamente em 1912 com Elizabeth "Lizzie" Fields, que por sua vez deu a luz a três crianças. Dillinger inicialmente não gostava de sua madrasta, mas ele acabou se apaixonando por ela. Os dois eventualmente começaram um relacionamento que durou 3 anos.
Com uma infância tão ferrada como essa não era de se estranhar que quando Dillinger virou um adolescente ele passou a ter encontros com a lei devido a brigas e pequenos furtos.
Ele também ficou conhecido por ter uma "personalidade desconcertante" e cometer bullying em crianças menores, algo que ele provavelmente aprendeu com seu pai.
John deixou a escola para trabalhar em uma oficina de Indianápolis, seu pai, porém, temia que a cidade estivesse "corrompendo" seu filho, então ele decidiu se mudar com a família para Mooresville, Indiana em 1921.
O comportamento selvagem e rebelde de Dillinger permaneceu inalterado, apesar de sua nova vida rural. Em 1922, ele foi preso por roubo de carros e seu relacionamento com o pai só piorou. 

Federal Bureau of Investigation, Domínio público, via Wikimedia Commons
Como muitos faziam naquela época seus problemas com a lei levaram John a se alistar na Marinha dos Estados Unidos, onde ele era um oficial de terceira classe atribuído a bordo do navio de guerra USS Utah, mas ele desertou apenas alguns meses depois, quando seu navio foi atracado em Boston. Ele acabou sendo desonrosamente dispensado.
Dillinger então retornou a Mooresville, onde conheceu Beryl Ethel Hovious. Os dois se casaram em 12 de abril de 1924. Ele tentou se estabelecer e ter uma vida normal mas ele tinha dificuldade em manter um emprego e ao mesmo tempo preservar seu casamento. 
Incapaz de encontrar um emprego John decidiu que era hora de passar a cometer crimes mais sérios, que lhe rendessem dinheiro de verdade, ele começou a planejar um assalto com seu amigo Ed Singleton. Os dois roubaram uma mercearia local, mas saíram com apenas $ 50,00.
Ao deixar a cena, os criminosos foram vistos por um ministro que reconheceu os homens e os denunciou à polícia. Durante o assalto, Dillinger bateu na cabeça de uma vítima com uma metralhadora enrolada em um pano e também carregou uma arma que, embora descarregada, não atingiu ninguém. 
Os dois homens foram presos no dia seguinte. Singleton se declarou inocente, mas depois que o pai de Dillinger discutiu o assunto com o promotor Omar O'Harrow, seu pai convenceu Dillinger a confessar o crime e se declarar culpado sem reter um advogado de defesa em troca de uma pena menor. Dillinger ouviu o conselho de seu pai e concordou com ele, o assaltante então foi condenado por assalto e agressão com intenção de roubar e conspiração para cometer um crime. Ele esperava uma leve sentença de liberdade condicional como resultado da discussão de seu pai com O'Harrow, mas em vez disso, para a surpresa e o desespero dos envolvidos, ele foi condenado de 10 a 20 anos de prisão por seus crimes. 
Seu pai disse aos repórteres que lamentava ter dado seu conselho a John e ficou chocado com a sentença. Ele pediu ao juiz para encurtar ela, mas sem sucesso. A caminho de Mooresville para testemunhar contra Singleton, Dillinger escapou por pouco tempo de seus captores, mas foi preso em poucos minutos. Singleton teve uma mudança de local e foi condenado a uma prisão de 2 a 14 anos. Ele foi morto em 31 de agosto de 1937, por um trem quando ele desmaiou, bêbado, em uma ferrovia.

Indiana State Penitentiary, Domínio público, via Wikimedia Commons
Dentro do Reformatório de Indiana e a Prisão Estadual de Indiana, de 1924 a 1933, Dillinger percebeu o que muitos já sabiam, a cadeia não era um lugar para ajudar os criminosos a se reformarem, era um lugar que deixava eles ainda pior. John começou a se envolver em um estilo de vida ainda mais criminoso. Ao ser admitido na prisão, ele foi citado dizendo: "Eu serei o pior bastardo que você já viu quando eu sair daqui."
Seu exame físico ao ser admitido na prisão mostrou que ele tinha gonorreia, o tratamento para sua condição foi extremamente doloroso. Ele ficou com raiva da sociedade por causa da traição do governo que lhe deu sua longa sentença e fez amizade com outros criminosos, como os assaltantes de banco Harry "Pete" Pierpont, Charles Makley, Russell Clark e Homer Van Meter, foram eles que ensinaram a Dillinger como ser um criminoso de sucesso.
Os homens planejaram assaltos que eles cometeriam logo depois de serem libertados. Dillinger estudou o meticuloso sistema de assalto a bancos de Herman Lamm e o usou extensivamente ao longo de sua carreira criminosa.
Seu pai, porém, ainda não havia desistido de seu filho, provavelmente por sentir culpa sobre tudo que havia acontecido com John, ele lançou uma campanha para libertá-lo e conseguiu 188 assinaturas em uma petição. Dillinger foi então solto em 10 de maio de 1933, depois de cumprir nove anos e meio. A madrasta de Dillinger ficou doente pouco antes dele ser libertado da prisão e morreu antes dele chegar em casa. 
Mas o destino ainda não queria parar de ferrar com John, o grande problema era que ele foi solto no auge da Grande Depressão, Dillinger então tinha poucas chances de encontrar um emprego, se pessoas comuns já estavam morrendo de fome, imagina um ex-criminoso? Sem chances de sobreviver por meios normais John imediatamente voltou ao crime. 
Em 21 de junho de 1933, ele roubou seu primeiro banco, recebendo $ 10.000 do New Carlisle National Bank. Em 14 de agosto, Dillinger roubou um banco em Bluffton, Ohio, mas sua carreira foi curta, ele foi perseguido pela polícia de Dayton, Ohio, foi capturado e depois transferido para a Cadeia do Condado de Allen, em Lima, para ser indiciado em conexão com o roubo de Bluffton. 
Depois de revistá-lo antes de deixá-lo entrar na prisão, a polícia descobriu um documento que parecia ser um plano de fuga da prisão. Eles exigiram que Dillinger lhes dissesse o que o documento significava, mas ele se recusou a falar. Na verdade Dillinger havia ajudado a conceber um plano para a fuga de Pierpont, Clark e seis outros detentos que ele havia conhecido na prisão, a maioria dos quais trabalhava na lavanderia da prisão. Dillinger tinha amigos contrabandeando armas em suas celas, com as quais escaparam apenas quatro dias após a captura de Dillinger.
O grupo ficou conhecido como "Primeira Gangue Dillinger", seus novos amigos se passaram por agentes da Polícia do Estado de Indiana, alegando que tinham vindo para extraditar Dillinger para Indiana. Quando o xerife, Jess Sarber, pediu suas credenciais, Pierpont matou o xerife e libertou Dillinger de sua cela. Os quatro homens escaparam de volta para Indiana, onde se juntaram ao resto da gangue.

FBI, Domínio público, via Wikimedia Commons
Segundo a imprensa local, Dillinger usava vários golpes em seus roubos a banco, alguns estranhos até pra época. Uma vez ele se disfarçou de vendedor de alarmes de segurança em Indiana e Ohio, e outra vez ele e sua gangue se passaram por uma companhia cinematográfica que queria encenar um roubo a banco para um filme.
Entre 1933 e 1934 eles já haviam roubado pelo menos 12 bancos diferentes e pegaram cerca de $ 300.000 (o equivalente hoje em dia a $ 5 milhões).
E claro que a mídia, assim como eles haviam feito com Bonnie e Clyde, cobriam todos os roubos de Dillinger e seus amigos, que ficou conhecido no país inteiro. Mas porque ele era considerado um Robin Hood moderno? É verdade que John era muito generoso, mas isso apenas com aqueles que ele confiava, incluindo sua família e amigos, ele também gostava de dar grandes gorjetas, mas nunca em sua vida realmente distribuiu sua grana aos pobres. Então por que o povo via ele como um herói? É porque, como já dissemos, seus crimes aconteceram na época da Grande Depressão, quando ninguém conseguia empregos e muitos passavam fome, e o povo culpava essa depressão financeira nos bancos americanos, os mesmo que John roubava, era como se Dillinger e sua gangue estivessem se vingado por toda a população mais pobre do país.
O cara era tão famoso na época quanto as maiores celebridades de Hollywood, uma loteria de Indianápolis que fez uma aposta sobre quando ele seria capturado ficou tão popular que teve que ser fechada, seu pai foi oferecido uma pequena fortuna para falar em público. Quando Dillinger e sua gangue foram presos em Tucson, Arizona, dezenas de pessoas entraram na prisão da cidade apenas pela oportunidade de ver o criminoso. As empresas até o usaram como um endosso de celebridade não sancionado. Ao saber que o bandido que amava carros dirigia seu automóvel, uma das concessionárias Hudson pendurou uma faixa dizendo: "Dillinger escolhe Hudson 1934 para seu uso pessoal". Quando o ladrão mais tarde mudou para um Ford, a empresa imprimiu folhetos dizendo: "Eles vão pegar John Dillinger? Não até o tirarem do Ford V8!"
Mas embora John soubesse roubar, fugir era outra história, a maior parte da quadrilha foi capturada novamente em Tucson, Arizona durante um incêndio no Historic Hotel Congress. Dillinger foi preso e enviado para a cadeia de Crown Point, Indiana. Ele foi processado por suspeita do homicídio do guarda William O'Malley durante um tiroteio em um banco em East Chicago, Indiana.
A polícia local se gabou aos jornais locais que a cadeia era à prova de fugas e colocaram guardas extras como precaução, isso provavelmente só incentivou Dillinger a fugir ainda mais. Ele carvou uma pistola falsa usando madeira e pintou ela com graxa de sapato para parecer real, apenas um mês depois de ser preso ele já havia fugido da cadeia a prova de fugas. A polícia, com vergonha, disse que a arma era real e não uma réplica, e que o advogado de Dillinger é quem teria trazido ela pra cadeia, mas eles nunca ofereceram nenhuma evidência de nada disso.
Em 16 de março, Herbert Youngblood, que fugiu ao lado de Dillinger, foi morto a tiros por três policiais em Port Huron, Michigan. O vice-xerife Charles Cavanaugh foi mortalmente ferido na batalha e morreu poucas horas depois. Antes de morrer, Youngblood disse aos policiais que Dillinger estava na vizinhança de Port Huron, e imediatamente os oficiais começaram uma busca pelo homem, mas nenhum vestígio dele foi encontrado. Um jornal de Indiana informou que Youngblood mais tarde desmentiu a história e disse que não sabia onde Dillinger estava naquele momento, já que ele havia se separado dele logo após sua fuga.

FBI, Domínio público, via Wikimedia Commons
Dillinger ao contrário de outros ladrões não tinha medo de policiais, ao contrário, ele até chegou a assaltar delegacias no auge de sua fama, ele rendia policiais e roubava suas metralhadoras, escopetas, rifles, pistolas, armas de gás lacrimogênio e coletes a prova de balas como se fosse a coisa mais simples do mundo. Tudo isso combinado com sua fuga e a incapacidade da polícia de prendê-lo resultou no governo americano se sentindo humilhado por John e sua gangue, e honestamente não era pra menos.
Dillinger cruzou a fronteira de Indiana-Illinois num carro roubado, cometendo um crime federal que finalmente o colocou sob a mira do FBI. Era o começo de uma das maiores caçadas humanas que o E.U.A já havia visto.
No verão de 1934, Dillinger havia simplesmente sumido. Ele foi para Chicago e usou o nome falso de Jimmy Lawrence. Arranjou uma namorada chamada Polly Hamilton, que não sabia da sua identidade. Mas o FBI encontrou seu carro, logo deduzindo que ele estava na cidade.
Acredita-se que nessa época John também tenha passado por cirurgias plásticas pra não ser reconhecido, mas isso nunca foi provado oficialmente.
O chefe da Divisão de Investigações, J. Edgar Hoover, criou uma força-tarefa especial sediada em Chicago apenas para localizar Dillinger. Em 21 de julho, Ana Cumpănaș, uma madame de um bordel em Gary, Indiana, também conhecida como "a mulher de vermelho", entrou em contato com o FBI. Ela era uma imigrante romena ameaçada de deportação por "baixo caráter moral" e ofereceu informações aos agentes sobre Dillinger em troca de sua ajuda para impedir sua deportação. O FBI concordou com seus termos, mas assim como Dillinger foi traído pelo governo ela foi posteriormente deportada. Cumpănaș revelou que Dillinger estava gastando seu tempo com uma prostituta, Polly Hamilton, e que ela e o casal iriam assistir a um filme juntos no dia seguinte. Ela concordou em usar um vestido laranja, para que a polícia pudesse identificá-la facilmente.
Quando o filme terminou, Purvis parou na porta da frente e sinalizou a saída de Dillinger acendendo um charuto. Segundo relatos Dillinger virou a cabeça e olhou diretamente para o agente enquanto ele passava, olhou para o outro lado da rua, depois se adiantou de suas companheiras e correu para um beco próximo. Outros relatos afirmaram que Dillinger ignorou um comando para se render, sacou sua arma e se dirigiu para o beco. Os agentes já tinham o beco fechado, mas Dillinger estava determinado a atirar. 

Associated Press-auction carries full AP wire story which came with the photo., Domínio público, via Wikimedia Commons
Três homens perseguiram Dillinger no beco e dispararam. Clarence Hurt atirou duas vezes, Charles Winstead três vezes e Herman Hollis uma vez. Dillinger foi atingido por trás e caiu de cara no chão. Dillinger foi atingido quatro vezes, com duas balas passando por ele e uma causando uma ferida superficial no lado direito. A bala fatal entrou pela parte de trás do pescoço dele, cortou a medula espinhal, passou pelo cérebro e saiu logo abaixo do olho direito, cortando dois conjuntos de veias e artérias. Uma ambulância foi chamada mas Dillinger já tinha morrido. Ele foi oficialmente declarado morto no Alexian Brothers Hospital. 
Segundo os investigadores, Dillinger morreu sem dizer uma palavra. Duas espectadoras, Theresa Paulas e Etta Natalsky, foram feridas. Dillinger esbarrou em Natalsky assim que o tiroteio começou. Natalsky foi baleada e posteriormente levado ao Hospital Columbus.
Winstead mais tarde foi pensado ter disparado o tiro fatal, e como consequência recebeu uma carta pessoal de recomendação de J. Edgar Hoover. Dillinger foi morto a tiros pelos agentes especiais em 22 de julho de 1934, aproximadamente às 10:40 da noite, de acordo com um relatório do New York Times no dia seguinte. 
A morte de Dillinger aconteceu apenas dois meses após a morte dos famosos criminosos Bonnie e Clyde, e assim como aconteceu com o casal as pessoas queriam lembrancinhas da morte de John, havia relatos de pessoas mergulhando seus lenços e saias na poça de sangue que se formara no beco, como lembranças.

Jewelr07, CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons
O corpo de Dillinger ficou disponível para exibição pública no necrotério do Condado Cook. Estima-se que 15.000 pessoas foram visitar o cadáver ao longo de um dia e meio. Até quatro máscaras de morte também foram feitas. O problema é que o cadáver não se parecia com John, tanto que aparentemente seu pai chegou a dizer que aquele não era seu filho. A teoria de que o FBI havia matado um inocente por erro, mas nunca admitiu com vergonha é acreditada por muitos até hoje, o que só ajuda a crescer a lenda de Dillinger.
O ladrão foi enterrado no Cemitério Crown Hill, em Indianápolis. A lápide de Dillinger foi substituída várias vezes por causa do vandalismo por pessoas pegando peças dela como lembranças. 
Curiosamente, mesmo após sua morte John ainda era considerado um herói, e um motivo a mais para as pessoas considerarem isso veio a tona. No total, Dillinger e suas gangues haviam roubado dos bancos $ 500,000, mas no total o FBI havia gastado $ 2 milhões em dinheiro dos contribuintes para pegar ele.
Até hoje a lenda de Dillinger vive, seja em filmes, quadrinhos, livros ou apenas na mente das pessoas.

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