18 de janeiro de 2021

Os maiores guerreiros do mundo animal #10

De cães e gatos, até macacos, burros e elefantes, não existe um animal que possa ser adestrado que já não tenha sido usado por humanos em suas guerras, mas alguns desses bichinhos se superaram no quesito habilidade e entraram para a história como grandes soldados, confira agora a história de mais alguns deles.
E se você quiser saber ainda mais sobre pessoas que viraram lendas, leia nossa nova série de matérias sobre os maiores criminosos (e policiais) do mundo, clicando aqui.

not stated, Domínio público, via Wikimedia Commons
Vamos começar com Lizzie, a Elefanta de Guerra que ajudou em muito na Primeira Guerra Mundial. A elefanta provavelmente nasceu em uma ménagerie itinerante inglesa que pertencia a William Sedgwick. Mas o que é uma ménagerie? "Ménagerie" é uma palavra francesa usada para designar uma coleção particular de animais vivos em cativeiro, geralmente selvagens e exóticos, seria então uma mistura de zoológico com circo.
Sua vida era a de qualquer elefante circense, mas quando a Grande Guerra estourou a pobre elefanta viu seu futuro indo pelo ralo. Circos e shows itinerários em geral tiveram de começar a seguir várias regras novas devido as batalhas, isso levou muitos desses shows a serem completamente cancelados, levando os animais a serem executados ou indo parar na guerra. Lizzie acabou indo trabalhar em uma espécie de ferro velho, sendo usada para transportar sucatas, já que os cavalos do local tinham sido requisitados pelo exército. Segundo relatos da época seu novo dono ficou muito feliz com o animal, que tinha a força de no mínimo 3 cavalos.
Além de sucatas Lizzie também transportou máquinas em torno de Sheffield para apoiar o esforço que a indústria siderúrgica estava comprometendo com a guerra, tornando Lizzie uma recruta de guerra não-oficial. A elefanta estava abrigada perto da fábrica, no que é agora o edifício Hancock and Lant, em Ladies Bridge, e se tornou muito famosa na cidade, virando uma espécie de atração do local. A elefanta era tão boa em seu trabalho que ela passou a carregar munições ativas de um canto para o outro da cidade.
Foi relatado que ela era capaz de remover e carregar grandes quantidades de material, sendo a maior delas de 28 toneladas em 6 viagens da estação para as empresas nas quais trabalhava. No começo os cavalos do local não foram com a cara da elefantinha, chegando a correr de medo dela, mas algum tempo depois todos passaram a se dar bem.
Embora alimentada com rações diárias que consistiam em dois baldes de milho misturados com meio fardo de feno, Lizzie tornou-se conhecida rapidamente como uma grande comedora na cidade, uma vez ela até mesmo roubou a maçã do bolso de um homem sem que ele notasse, divertindo as pessoas ao seu redor. Sua fama cresceu e as pessoas passaram a querer alimentar a elefanta, tanto que uma vez um homem deu a Lizzie uma cesta inteira de batatas, o que levou a elefanta a confrontá-lo pouco tempo depois, com a mesma cesta, agora vazia, como se ela dissesse "eu quero mais disso aqui". Ela não apenas roubou comida, como também teria comido um chapéu de um estudante.
Depois de um tempo a Grande Guerra acabou, Lizzie conseguiu passar por ela toda sem sofrer nenhum grande ferimento. Mas o que aconteceu depois da guerra é um mistério, como a elefanta desapareceu dos holofotes ninguém sabe ao certo o que aconteceu, algumas fontes dizem que ela continuou trabalhando com sucatas, outra diz que ela voltou ao seu dono original na ménagerie, e outra diz ainda que suas patas ficaram machucadas de tanto andar na cidade e a elefanta se aposentou, possivelmente indo parar em um zoológico. De qualquer jeito o que se sabe é que a indústria siderúrgica de Sheffield foi fundamental para o esforço de guerra do país e foi Lizzie quem garantiu que as fundições e fornos da cidade tivessem os suprimentos necessários. Sem ela, a produção podia ter sido severamente prejudicada e a guerra poderia ter tido um fim diferente na cidade londrina.

U.S. Navy photo by Photographer's Mate 1st Class Brien Aho., Domínio público, via Wikimedia Commons
Vamos falar agora mesmo dos golfinhos de guerra, isso mesmo, nem esses mamíferos aquáticos escaparam delas. Nos E.U.A. existe o Navy Mammal Marine Program (Programa da Marinha Mamíferos Marinhos), um programa que estuda o uso militar de mamíferos marinhos, principalmente golfinhos e leões marinhos da Califórnia. Mas para que servem esses animais? Eles treinam esses seres para executar tarefas que vão desde proteção de navios e portos, detecção e remoção de minas até recuperação de equipamentos perdidos.
O programa é baseado em San Diego, Califórnia, onde os animais são alojados e treinados continuamente. Equipes desses animais já foram enviadas para uso em zonas de combate, como durante a Guerra do Vietnã e a Guerra do Iraque.
As origens do programa remontam a 1960, quando um golfinho do Pacífico foi adquirido para estudos hidrodinâmicos, buscando melhorar o desempenho do torpedo de guerra americano. O objetivo era determinar se os golfinhos tinham um sistema sofisticado de redução de arrasto, mas a tecnologia da época não conseguiu realizar o estudo. Em 1962 a inteligência dos animais, a excepcional capacidade de mergulho e a capacidade de treinamento levaram à fundação de um novo programa de pesquisa em Point Mugu, Califórnia, onde um centro de pesquisa foi construído entre a Lagoa Mugu e o oceano. A intenção era estudar os sentidos e as capacidades dos golfinhos, como o sonar natural e a fisiologia do mergulho profundo, e determinar como os golfinhos e os leões marinhos podem ser usados ​​para realizar tarefas úteis, como procurar e marcar objetos na água. Uma grande conquista foi a descoberta de que golfinhos e leões marinhos treinados poderiam ser usados sem restrições em mar aberto. Em 1965 um golfinho da marinha chamado Tuffy participou do projeto SEALAB II em La Jolla, Califórnia, carregando ferramentas e mensagens entre a superfície e o habitat 60 m abaixo do nível do mar. Tuffy também foi treinado para localizar e orientar mergulhadores perdidos em segurança.
Em 1967 o programa foi finalmente classificado como confidencial, a instalação de Point Mugu e seu pessoal foram realocados para Point Loma, em San Diego, e colocados sob o controle do Centro de Sistemas Espaciais e Naval Warfare. Além disso, um laboratório foi estabelecido no Havaí na Estação Aérea Marine Corps, na Baía Kāneʻohe, no extremo norte da Península de Mokapu. No entanto, em 1993, como resultado do processo de realinhamento e fechamento da base, o laboratório do Havaí foi fechado e a maioria dos animais foram transferidos para San Diego.
Cada grupo de golfinhos tem um trabalho diferente no campo de batalha, o MK 5 é dedicado à recuperação de equipamentos de teste disparados de navios ou lançados de aviões no oceano. O MK 4 usa golfinhos para detectar e marcar a localização das minas marítimas, enquanto os golfinhos do MK 7 são treinados para detectar e marcar a localização das minas no fundo do mar ou enterradas em sedimentos. A equipe MK 8 é treinada para identificar rapidamente locais seguros para o desembarque inicial de tropas em terra. 
Golfinhos de remoção de minas foram enviados para o Golfo Pérsico durante a Guerra do Iraque em 2003, a Marinha disse oficialmente que esses golfinhos foram eficazes para ajudar a detectar mais de 100 minas antiderrapantes e armadilhas submarinas do porto de Umm Qasr.
Já o MK 6 usa golfinhos e leões marinhos como sentinelas para proteger instalações portuárias e navios contra nadadores humanos não autorizados. O MK 6 foi implantado pela primeira vez durante a Guerra do Vietnã de 1965 a 1975 e no Bahrein de 1986 a 1988. Quando um mergulhador inimigo é detectado por um golfinho, o animal se aproxima por trás dele e coloca um dispositivo na parte de trás do tanque de ar do inimigo, este dispositivo é acoplado a uma bóia que explode, alertando o pessoal da marinha sobre o intruso. Os leões-marinhos carregam um dispositivo semelhante na boca, mas, em vez disso, prendem-no a um dos membros do inimigo.
Mas e quanto a batalhas de verdade? Os animais não participam delas, e nunca são treinados para isso, segundo a Marinha, por mais esperto que esses animais sejam, eles não conseguem ver uma diferença entre navios e submarinos aliados e inimigos, o que é um grande problema na guerra.
Embora esses animais estejam sendo usados faz décadas poucos sabem de sua existência, mas quem sabe um dia eles também virem lendas.

Georgina Shaw Baker, Domínio público, via Wikimedia Commons
Conheça Oscar, também chamado de "Unsinkable Sam", ou "Sam, o Inafundável", e como você deve ter imaginado pelo nome, esse bichano serviu sua carreira militar em navios, mas vamos começar do começo.
O gatinho provavelmente nasceu pouco antes da Alemanha nazista subir ao poder, provavelmente antes de 1941. Pouco tempo depois os nazistas adotaram ele como um mascote. O gato preto e branco era de propriedade de um tripulante do navio de guerra alemão Bismarck e estava a bordo desse navio em 18 de maio de 1941, quando ele partiu na Operação Rheinübung, que no fim foi a única missão do Bismarck, que acabou sendo afundado após uma feroz batalha marítima em 27 de maio, da qual apenas 115 de sua tripulação de mais de 2.100 sobreviveram.
Horas mais tarde o gato foi encontrado flutuando em uma prancha, encantando os soldados inimigos, que o salvaram e o adotaram, ele agora era parte da tripulação do navio britânico HMS Cossack. Sem saber qual era o nome alemão do felino, a equipe do Cossack nomeou seu novo mascote de "Oscar". O nome foi derivado do Código Internacional de Sinais para a letra "O", que é o código para "Man Overboard" (Homem ao Mar), mas o felino também era chamado de Oskar, devido ao fato dele ser de origem alemã.
O gato serviu a bordo do Cossack pelos próximos meses, enquanto o navio realizava escoltas no Mar Mediterrâneo e no Oceano Atlântico Norte, tudo ia muito bem em sua vida até 24 de outubro de 1941, nesse dia o Cossack estava escoltando um comboio de Gibraltar para a Grã-Bretanha quando foi severamente danificado por um torpedo disparado pelo submarino alemão U-563. A tripulação foi então transferida para o destróier HMS Legion, e uma tentativa foi feita para rebocar o navio destruído de volta a Gibraltar. No entanto, o agravamento das condições climáticas fez com que a tarefa se tornasse impossível e tivesse de ser abandonada. Em 27 de outubro, um dia após o rebocamento, Cossack afundou a oeste de Gibraltar. A explosão inicial destruiu um terço da seção dianteira do navio, matando 159 membros da tripulação, mas Oscar, o felino sortudo, também sobreviveu a isso e foi levado para o estabelecimento em terra em Gibraltar.
O gatinho, embora ainda fosse jovem, já havia sobrevivido a dois naufrágios diferentes, por isso acharam que ele merecia um novo nome, ele foi apelidado de "Unsinkable Sam", ou "Sam, o Inafundável". O gato logo foi transferido para o porta-aviões HMS Ark Royal, que por coincidência havia sido fundamental na destruição do Bismarck, o primeiro navio do gatinho. No entanto, Sam não encontrou muita sorte lá e, ao retornar de Malta em 14 de novembro de 1941, o novo navio também foi torpedeado, desta vez pelo U-81 da Alemanha nazista. Também foram feitas tentativas de rebocar o Ark Royal para Gibraltar, mas o fluxo incontrolável do oceano tornou a tarefa inútil. O navio infelizmente afundou a 48 Km de Gibraltar. Por outro lado, a baixa velocidade com que o navio afundou significou que todos, exceto um da tripulação, poderiam ser salvos. Os sobreviventes, incluindo novamente o gatinho preto e branco, foram encontrados agarrados a uma prancha flutuante e descritos na época como "zangados, mas sem ferimentos", eles foram transferidos para o HMS Lightning e o HMS Legion, que curiosamente foi quem resgatou a tripulação do Cossack. mas infelizmente ambos viriam a ser afundados em 1942 e 1943 respectivamente.
O afundamento do Ark Royal provou ser o fim da carreira de Sam. Ele foi transferido primeiro para os escritórios do Governador de Gibraltar e depois enviado de volta ao Reino Unido, onde viveu o restante da guerra morando na casa de um marinheiro em Belfast, chamada "Casa dos Marinheiros". 
Sam morreu em 1955, com uma idade muito avançada de quase 15 anos mais ou menos. Um retrato pastel de Sam (intitulado Oscar, o gato de Bismarck) da artista Georgina Shaw-Baker está na posse do Museu Marítimo Nacional de Greenwich.
E é isso, o gatinho que se recusava a afundar acabou virando uma lenda vida... ou será que não. A verdade é que até hoje especialistas debatem de Sam sequer existiu, muitos acham que ele é apenas isso, uma lenda, e que os marinheiros na verdade inventaram Sam e suas façanhas. Mas de qualquer jeito Sam, ou Oscar, ou Oskar, veio para ficar, sua lenda é contada até hoje e não vai desaparecer tão cedo.

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